James comenta sobre a morte de Prince

Através de seu facebook, James Valentine postou sobre sua história com Prince, como uma forma de tributo pela morte do cantor.

Leia na íntegra o depoimento emocionante de James em relação a um de seus maiores ídolos:

Em meados de 2007 (?) Adam decidiu que daria uma festa em sua casa em Hollywood Hills. Decidimos então que deixaríamos alguns instrumentos montados, caso houvesse um pequeno show por ali.

Mais cedo nesse mesmo dia, Adam convidou Selma Hayek para a festa. Ela perguntou se poderia convidar Prince. Claro que você pode convidar o Prince. Mas ninguém imaginou que de fato ele apareceria.

Foi uma pequena festa, provavelmente com 30 pessoas do nosso grupo de amigos. Em algum momento alguém começou a tocar os instrumentos, todo mundo estava curtindo, mas nada diferente do que outras noites de festa.

De repente, eu olhei pela sala e vi que um baixista estava chegando. Eu sabia que ele era baixista porque o baixo estava no ombro dele. Atrás dele tinha um baterista, que eu sabia que era baterista porque ele estava com as baquetas na mão. Um por um, a banda toda entrou. Eles tinham seus instrumentos como também suas roupas estavam combinando entre si. Por trás de todos eu vi Prince surgindo do fundo.

Penso que o baterista pisou no palco e Matt ofereceu o instrumento para ela. Daí o baixista também chegou. Era a banda do Prince. Foi glorioso, eu estava extasiado (OBVIAMENTE, ESSES ERAM UM DOS MELHORES MÚSICOS DO PLANETA).

Eu estava muito envolvido ouvindo eles tocarem por um momento (não sei por quanto tempo, perdi minha noção de tempo e espaço) mas de repente eu percebi que Prince estava esperando por mim para sair do palco. Eu fiz contato ao mesmo tempo que eu tirava a guitarra e a oferecia para ele.

O que se seguiu foi a experiência musical mais insana que eu já tinha ouvido ou testemunhado até então. Eles estavam tocando variações do que já tinhamos tocado antes mesmo deles chegarem, mas que se transformou no exato momento em que ele pegou a guitarra. Todo mundo perdeu a cabeça!

Era muito para processar. PRINCE estava na nossa sala. Ele apareceu com sua banda. Ele veio nos dar uma masteraula. Ele apareceu para nos mostrar que mesmo que tivéssemos alguns hits, nós nunca alcançaríamos o mesmo nível que ele. Era como se estivéssemos na First Avenue e fossemos Morris Day e a TIME estivesse lá para cobrir o ocorrido.

Em algum momento ele fez um movimento com a guitarra que desligou o instrumento. Nesse ponto ele anunciou para a festa ‘Vamos para a minha casa!’

Ele convidou a festa inteira, todos os nossos amigos, para a casa que ele tinha alugado em Beverly Hills. Lá tinha uma danceteria no porão que tinha um palco completo.

Prince e sua banda já estavam ensaiando para uma turnê há algum tempo, então eles subiram no palco e tocaram alguns medleys de seus maiores sucessos. E de repente um monte de gente subiu no palco para curtir a música. Natasha Beddingfield estava lá e cantou, Adam subiu e tocou também.

Eu estava com medo de subir e tocar ao mesmo tempo que Prince estava no mesmo palco. Quando ele deu uma pausa eu subi e comecei a tocar. Ele veio em seguida e começamos a tocar juntos. Do nada ele pediu para a banda parar de tocar e ficamos só os dois tocando. Provavelmente a minha maior experiência musical na vida.

Nessas situações você fica tão intimidado em começar a tocar ou estragar tudo. Mas naquela noite o oposto aconteceu. As estrelas se alinharam e por um momento eu toquei além das habilidades musicais que eu pensei ter. Provavelmente não por acidente, Prince era o tipo de músico que inspirava o melhor nas pessoas.

Nós ficamos lá a noite toda. O assistente dele perguntou brincando se queríamos panquecas, já que o sol estava nascendo (uma referência a história de Chappelle Show’s Charlie Murphy que jogou basquete com Prince).

Eu não cheguei a conversar muito com ele aquele noite, ele não era muito de conversar. Eu meio que fiquei atrás do Adam enquanto eles conversavam (muito agradecido pela confiança do Adam nessas situações). Acho que eu só consegui agradecer a ele por nos receber e tentei falar o quanto tudo isso tinha significado pra mim. Acho que ele não disse muita coisa, mas eu consegui ver nos olhos dele que ele tinha entendido o quão especial tudo aquilo tinha sido para nós.

Em outro momento, fomos convidados para uma festa dele em outra casa alugada em Beverly Hills. Isso aconteceu durante 2 anos enquanto ele dava essas festas, que se tornaram lendárias.

Você nunca sabia quem ia aparecer. Foi numa dessas festas que pude tocar com Herbie Hancock (e Matthew McConaughey que não largava a bateria). Você não sabia se Prince ia ou não performar, nem se ele ia aparecer na festa.

Tinha uma banda tocando jazz gospel. Pensamos que pela banda estar lá, Prince provavelmente apareceria. Mas foi ficando tarde e nada dele aparecer.

De repente vimos ele descer do segundo andar pela escada. Ele foi direto para a guitarra, pegou e tocou O SOLO MAIS INCRÍVEL QUE JÁ OUVI EM TODA A MINHA VIDA. Era Hendrix, era Coltrane, foi completamente impecável.

Tudo isso durou por 90 segundos? (quando Prince estava no ambiente, o tempo parava). Ele colocou a guitarra no tripé e subiu de volta pelas escadas. Ninguém mais o viu pelo resto da noite.

Comentários